Beatriz Segall disse numa entrevista dia desses que na época em que era bem atuante em novelas nenhuma atriz queria o papel da vilã. Além do prejuízo material — vilões não são bons anunciantes — havia o ônus moral, o risco de ser xingado na rua etc. Isso tudo mudou e a Odete Roitman de “Vale tudo” — até hoje cultuada, vide a força da reprise no Viva — fez parte dessa mudança.
Se a mocinha é, por natureza, sem graça, o que dizer de uma personagem como a Felícia de “Passione”? Larissa Maciel (na foto com Marcello Antony, Bianca Bin e Kayky Brito) tinha pela frente uma missão ainda mais árdua do que uma heroína. Sua personagem foi, até o fim do primeiro terço da história, uma das figuras mais anódinas já vistas na TV. Felícia era uma pessoa praticamente sem desejos, submissa. Os grandes acontecimentos da sua vida — o romance com Gerson (Marcello Antony) e o fato de ter uma filha, Fátima (Bianca Bin) — corriam em segredo.
Interpretar essa mulher quase nula não é para qualquer atriz. Larissa, que em “Maysa” já tinha mostrado muitas outras facetas, conseguiu descer todos os tons necessários até praticamente se apagar. Agora, deu uma virada, mas fez isso sem corromper a personagem. Não “se transformou” em outra pessoa. É a mesma, sem brilho, só que desabrochada. Um ótimo trabalho da atriz, da direção, do autor.
Aproveito o embalo para falar de Marcello Antony. Ele está surpreendendo em “Passione”. Driblou o caminho fácil do galã que apenas posa e fez do Gerson um personagem sensível, frágil, problemático, interessante. Os últimos capítulos da novela têm tido boas cenas reunindo a dupla e Bianca Bin, também uma atriz talentosa.
Por Patrícia Kogut para seu blog no Globo.com.
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