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quarta-feira, 26 de maio de 2010

Padrão de qualidade Globo está em risco?

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEihQZRTcg_pyzmTcy_494sZGiZZA6Y9bSEO-mohN11OBdgvk3s62-WYGkKoJ3ajNuX-K2CABUGf2INIhYhvIM5cxaJfdvk4P8KBIR0brEJj28-YFBU6FP5i5Yw7lrhn_i7pyhyOYGuF4aI/s1600-r/Q+de+queda.jpgA dramaturgia da Globo e o jeito de agir, pensar, de fazer rir, do brasileiro andam juntos. A presença das novelas e das minisséries em nosso cotidiano interferiu na formação e na cultura desse país de uma forma intensa e irreversível. Que telespectador que não se envolveu, nem que fosse apenas uma vez, com alguma novela, minissérie ou seriado da Globo? Por mais que gosto seja único e individual, não há um tipo de público que não tenha tido afinidade com um das centenas de produtos dessa emissora.
Entretanto, de alguns anos para cá, a dramaturgia global vem cometendo uma sequência de erros cruciais e primários. Mesmo com mais de quarenta anos de consolidação, a Globo voltou a enfrentar obstáculos que ela havia vencido com êxito há vários anos, tornando a repetição do erro quase que infantil.

A pergunta que existe é: as falhas, que serão detalhadas a seguir, na dramaturgia global seriam tão grandes a ponto de arranhar seu, até então inquestionável, padrão de qualidade?

Albano (Guilherme Weber), de “Tempos Modernos”
Divulgação/Globo

Começando por “Tempos Modernos”, de Bosco Brasil. Quem aprovou a produção de um roteiro fraco, sem nexo e com o mínimo de apelo popular? Por que a direção da Globo achou que o cotidiano de um prédio confuso, com vilões fracos, termos e nomes difíceis e uma história formada por uma sequência de “dejavù” iria agradar ao público? Um erro como esses nem uma emissora como a Record, que, nessa nova fase, está há apenas cinco anos no mercado de dramaturgia, ousa cometer. Sugira ao Honorilton Gonçalves um projeto inovador desses que no ato ele ignora, e opta por um roteiro água com açúcar contemporâneo e aberto. E ainda pergunto, por que a supervisão de Aguinaldo Silva? O que Aguinaldo Silva, acostumado a um texto cotidiano, de grande afinidade com o dia dia da sociedade, de simples entendimento mas com uma boa dosagem de emoção, que cria personagens específicos para seus atores, teria a acrescentar em uma novela confusa, moderna e com personagens praticamente fabricados?

Houve erro também na faixa das 18h, que inspira menos cuidados que a das 19h mas que também não vai bem. Se por um lado acabaram os remakes, que sugeriam uma falta imensa de criatividade por parte dos autores globais, surgiram histórias fracas e erros de análise. “Escrito nas Estrelas”, de Elizabeth Jhin, tem uma boa audiência, mas tem um roteiro fraco. Ao longo de todos os capítulos se vê o médico, que de vilão passa por uma transformação de pensamentos, chorando pela morte do filho e colhendo até vírgulas que ele teria dito antes da morte do primeiro capítulo. É isso? Quem esperava uma história espírita, uma “A Viagem” do século XXI se decepcionou. E em relação às análises, ainda há a pergunta: por qual motivo a Globo achou que o lugar de “Cama de Gato” era às 18h e não às 19h, sendo que a novela reunia todos ingredientes que obtiveram êxito às 19h mas que eram uma icógnita às 18h? Tudo bem que a novela não fez feio, mas poderia ter rendido muito mais que rendeu.

Foto: Renato Rocha Miranda/TV Globo

Na faixa de seriados e minisséries, os erros continuam. A renovação de “A Grande Família” por mais uma temporada sugere apenas duas alternativas. Ou que a Globo está com medo de investir em um novo produto ou seus roteiristas não tem criatividade para investir em algo melhor. O Ibope do seriado não é mais tão bom a ponto de mantê-lo na grade por mais e mais temporadas. Mas a resposta desse questionamento pode estar em seriados como “Faça Sua História” e “Separação”. Ambos chatíssimos e com repercussão que beira o zero. Um deles acabou sem ninguém sentir falta e outro deverá seguir pelo mesmo caminho. A ousadia de fazer um humorístico em um teatro para uma grande plateia como em “Sai de Baixo” ou uma trama envolvente e ágil como “Mulher” pelo visto não existe mais.

Por fim, o cancelamento das grandes minisséries também foi uma baixa importante na dramaturgia global. Abrem-se alas para o repetitivo – mas muito rentável – “Big Brother Brasil” e fecha-se o espaço para a dramaturgia. Minisséries de quarenta capítulos foram reduzidas em cinco, dez, quem sabe quinze, o que comprometeu até mesmo a qualidade do texto.

O que a Globo tem feito nos últimos anos é repetir truques. O que deu certo uma vez é copiado por ela mesma e embalado em um novo produto e empurrado para o telespectador. A queda da audiência mostra isso. O telespectador que vê um mágico sumir com uma girafa acha interessante, mas boceja quando vê o mesmo mágico sumindo com um elefante no espetáculo seguinte. Isso interfere no padrão de qualidade global?

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