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sábado, 8 de maio de 2010

‘Legendários’ procura atingir diversos públicos e desagrada

Poucos programas tiveram uma estreia tão criticada quanto 
'Legendários' Foto: Antônio Chahestian/Divulgação

Mauro Trindada/ Terra

Poucos programas tiveram uma estreia tão criticada quanto Legendários, que a Record lançou mês passado nos sábados à noite. Vexativo, tosco, apelativo, ingênuo e sem-graça foram apenas alguns dos adjetivos pregados na produção que, a despeito da má crítica dos jornalistas, marcou 10 pontos na estreia e ficou na vice-liderança do horário.

Outros programas de humor também sofreram uma recepção negativa. Pânico na TV apanhou um bocado antes de ficar claro que o público jovem era seu alvo principal. O melhor do programa são seus quadros non-sense, com direito a escatologia, violência gratuita e garotas bonitas que dizem sim e fazem a felicidade dos adolescentes.

Na esteira de seu sucesso, a Band trouxe ao Brasil o argentino CQC, aclimatado com o nome de Custe O Que Custar. O apresentador Marcelo Tas, repórteres e humoristas vindos da stand-up comedy conseguiram acertar uma mistura entre constranger políticos constrangedores e a exigir a participação de cidadãos, entre outros quadros. Levemente politizado e com um humor mais verbal e menos corporal e coreográfico, o CQC conseguiu encontrar um outro segmento de telespectadores que tangencia o do Pânico.

Legendários, porém, atira para todos os lados. Dentro de uma estrutura de programa de auditório, sob o comando de Marcos Mion, são desarmoniosamente misturados quadros vindos de várias experiências diferentes. O palco com a bancada de participantes parece saída do CQC, enquanto o quadro Super Tição é uma peça assistencialista na mesma linha de Um Dia De Princesa, de Netinho, ou Construindo Um Sonho, de Gugu Liberato.

A bonita Jaque Khury, por sua vez, trabalha numa linha próxima de Sabrina Sato, do Pânico. E João Gordo apresenta reportagens investigativas paralelas às do CQC. Sua matéria a respeito do trabalho escravo de bolivianos foi, aliás, uma boa pauta, que poderia ser desenvolvida por qualquer jornal da TV. O assunto já foi tema de boas matérias em jornais impressos e em sites, mas até então sem muito espaço na televisão.

O cardápio variado ainda é carregado com as entrevistas de Teena Whatever, personagem over de Miá Mello, e o humor ¿ esse sim ¿ deliciosamente tosco, diurético e debochado da trupe Hermes e Renato, que foi apresentado por 10 anos na MTV.

A mistura incerta visa abranger um público tão grande e heterogêneo quanto possível. Mas fica difícil o mesmo público apreciar o sentimentalismo edificante do quadro Super Tição e o humor furioso e iconoclasta de Hermes e Renato. Há saltos grandes demais. Estilos de humor tão particulares não conseguiram, até agora, conviver em Legendários. Tentar agradar a todos pode ser o mesmo que não agradar a ninguém.

Legendários – Record – Sábado, às 21h45.

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